quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Devassa no Pais do Carnaval

Charge de Amarildo - Jornal O Globo

Por Eliakim Araújo, jornalista.

No país do Carnaval, o governador do Distrito Federal é apanhado com a boca na botija e finalmente preso por ordem do STJ. O Presidente da República pede, à Polícia Federal, respeito no tratamento dispensado ao preso, que merece regalias especiais por ser quem é. Ele fica na prisão, é colocado na sala de 40 metros quadrados do Diretor de Criminalística, onde dispõe de cama e televisão. Não come a comida dos presos, suas refeições são levadas por assessores e familiares. E ele pode tranquilamente fartar-se de bifes com fritas, pasta e pizza etc.
José Roberto Arruda foi preso, segundo o STJ, para preservar a ordem pública e impedir que ele se valesse do cargo para tentar comprar testemunhas e destruir provas da corrupção. Mas, desse jeito, com tantos privilégios, a “prisão” não vai surtir efeito desejado pelo tribunal. Existe até uma lista de pessoas que podem vistá-lo, entre familiares, amigos e parentes.
Ou seja, desse jeito corremos o risco de ele continuar governando das dependências da própria PF. Só falta mesmo o gabinete para despachos.
Com tanto conforto, Arruda não tem do que se queixar. Um de seus muitos advogados informa que ele está conformado em passar até 83 dias na “prisão” (...) “de acordo com os prazos da prisão preventiva”. O advogado parece dizer que 83 dias é o máximo que o acusado aceita. Depois de solto, nunca mais alguém vai botar a mão nele.
Renuncia ou é cassado, para dar uma satisfação à opinião pública, e não se fala mais nisso. Aí é só correr pro abraço e gozar o dolce far niente com a fortuna acumulada ilicitamente.
Querer que Arruda fique alguns anos na cadeia é sonhar alto demais. Mas seu afastamento e de toda quadrilha encastelada no GDF e na Assembleia Distrital já será uma extraordinária vitória da democracia. Por isso, a intervenção no governo é mais do que necessária para limpar as estrebarias em que se transformou a administração pública da capital.
A cidade foi dominada por uma quadrilha de construtores e empreiteiros sem nenhum escrúpulo, que visam apenas o enriquecimento rápido e ilícito. Colocaram no poder políticos coniventes com o esquema de subornos e caixinhas. E Arruda não é o primeiro.
Não basta afastar Arruda e manter Paulo Octavio. Os dois são ´cachaça do mesmo alambique´; sua manutenção no cargo só vai ajudar a quadrilha a tentar limpar as provas do crime, como Arruda tentou fazer.

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