quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

TURISMO E ANIVERSÁRIO - Por Veterano Moreira

TURISMO E ANIVERSÁRIO
Combinação Perfeita
Por Espedito Moreira de Mello*
A cada ano, as pessoas fazem aniversário; no seu dia, todas comemoram; os eventos variam, vai da simples expressão “Feliz Aniversário” até a realização de grandes banquetes, tudo dentro daquilo que é possível realizar. Minha mulher aniversaria em novembro eu, em janeiro. Nos respectivos dias, costumamos dar folga ao nosso rancho, arrumamos a barraca e vamos “acampar” em algum lugar “alcançável”.
 Numa excursão turística a João Pessoa/PB, organizada e patrocinada pela Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais, seção de Natal, em meados de 2015, ficamos maravilhados com as praias visitadas naquela capital. Em vista disso, decidimos que passaríamos o meu octogésimo quarto aniversário, prestes a ocorrer, numa daquelas praias. Fizemos reserva num hotel, com linda vista para o mar e fácil acesso à praia de Manaíra. Desta forma, estava concluída a primeira etapa do planejamento.
João Pessoa, assim como Natal, é uma cidade de belos atrativos turísticos, dista da capital potiguar cerca de 200km. De automóvel, levaria pouco mais de 2h, a BR-101 é duplicada nesse trecho, portanto, livre de engarrafamentos. De avião, seria mais rápido ainda, ou de ônibus – dos três – o mais lento, digamos: três horas no máximo. O navio havia sido descartado.
Em outros tempos, teria escolhido o automóvel. Mas agora, avaliando desconhecer o trânsito daquela cidade, assustava-me a possibilidade de me estressar, coisa que estava fora de questão. Tentei o avião, mas nenhuma companhia tinha voos para nos atender nos horários desejados. Então restava o ônibus. Minha mulher elogiou os serviços da Viação Nordeste. Ela, há pouco, havia ido a Fortaleza por essa empresa. Ônibus confortáveis, segundo ela, dois andares, sendo o primeiro equipado com poltronas-leito. Verifiquei a disponibilidade de passagens. Tudo nos conformes de horários e tempo de viagem.
No ato de adquirir os bilhetes, tudo certo. Confirmado. Havia veículos e horários compatíveis com as nossas necessidades. Porém, nada de ônibus de dois andares ou poltronas-leito. Ah! Bobagem. São apenas três horas de viagem, pensei.
A funcionária  emitiu as passagens para ida e volta. Segundo ela, nós ocuparíamos os assentos mais confortáveis do veículo, para a ida e para a volta. Quanta deferência.
O embarque - Na hora da partida, cadê o ônibus? Foi abastecer, ouviu-se uma voz. Resultado, partiu com quase meia hora de atraso.  Os tais assentos confortáveis, localizados logo na entrada, estavam em lastimável estado de conservação. Os painéis à nossa frente, mal conservados, estavam repletos de informações de mau gosto, balançavam e faziam barulho logo que o veículo se movimentava; a janela, com o dispositivo de fechamento quebrado, competia em barulho com os painéis frontais – minha mulher deu um jeitinho de prender o vidro, mas abriu uma fresta por onde entraria corrente de ar muito irritante –, não havia visão externa, estávamos sem comunicação visual para frente e para os lados; o puxador da porta, que isola o motorista dos passageiros, preso apenas por uma das extremidades; as instalações sanitárias, embora limpas, não tinham sequer uma gota d’agua. Natal e João Pessoa são cidades com muitas atrações turísticas, certamente, mereciam um transporte interestadual de melhor qualidade.
Quando o ônibus partiu, muitos dos assentos não haviam sido ocupados. Isso fazia supor que haveria muitas paradas, o famoso pinga, pinga. Foi o que aconteceu. Felizmente, não houve atraso considerável em relação ao horário previsto para a chegada. Foi um alívio. Também é verdade que não houve aquela paradinha para “tirar a água do joelho”. Quem não aguentou, teve de usar as instalações sanitárias em condições higiênicas pouco recomendáveis.
Ao chegarmos à cidade, fomos direto ao guichê da empresa negociar a troca dos assentos para a volta a Natal. Fosse qual fosse o estado de conservação do veículo, qualquer outro lugar seria melhor do que o utilizado na ida.
Na medida em que o funcionário nos atendia, conversava com outro senhor, que se postara ao nosso lado. A conversa parecia amigável. Em dado momento, ele (o encosto) nos perguntou se iríamos precisar de táxi. Vamos sim, mas vamos pegar o primeiro da fila, respondi. Tudo bem, disse ele, mas aqui não tem problema, não; o senhor pode escolher qualquer carro que estiver na fila, o meu é este aqui à nossa frente. Concordei, mas depois de ele afirmar conhecer o endereço que lhe mostrei e dizer o tempo aproximado para se chegar lá. Trinta minutos, disse ele. Exatamente, esse foi o tempo gasto, para fazê-lo. No itinerário, o taxista parecia um piloto de stock-car. Deve ter cometido várias infrações. Foi o bastante para não me arrepender por não ter feito a viagem de automóvel. O trânsito estava pesado, Enfim, chegamos... inteiros.
A estada – Ótima recepção, contudo havíamos chegado pouco mais de uma hora antes do previsto para o check-in. Ainda não havia apartamento disponível. Enquanto isso, visitamos o restaurante do hotel e aproveitamos para almoçar uma carne de sol à moda da casa.
Finalmente, fomos conduzidos ao nosso apartamento. Instalações com requisitos de hotel quatro estrelas, conveniado com a Bancorbras, eram confortáveis.
Para alcançar a praia, bastava atravessar uma via de trânsito de sentido único, e um calçadão muito bem conservado. O conjunto mar e praia fornecia uma linda vista. A praia tem faixa de areia razoável e comprimento de certa de 3km. Pena! Tanta praia para pouca frequência de usuários. É possível que a resposta para isso estivesse na água, infestada de algas, prejudicando o prazer de um mergulho confortável. Também, não havia os famosos quiosques de apoio, banheiros e outras facilidades. Quando muito um carrinho vendendo coco verde. De qualquer forma, foi uma estada agradável. Diferente.
O retorno – Feito o check-out, tomamos um táxi para a rodoviária. O taxista parecia conhecer todos os atalhos, com calma e segurança, chegamos ao destino sem sobressaltos.
Embarque: desembaraço para o a plataforma, ônibus estacionado, check-in  – tudo no horário previsto – ocupamos nossos assentos.
O estado de conservação do veículo não diferençava do anterior, mas pelo menos o espaço que ocupávamos tinha um pouco mais de conforto. No horário previsto, ônibus lotado, tudo pronto para a partida, era um cenário perfeito. No entanto, dois passageiros melaram o ambiente. Um idoso (meu contemporâneo), com certa dificuldade para se locomover, havia comprado passagem cujo assento (poltrona 41) ficava na parte traseira do veículo. Ao embarcar, ocupou o primeiro assento que estava vago. Esperava ficar ali, desde que o verdadeiro ocupante concordasse. Não deu sorte. O dono, ou melhor, a dona chegou, viu seu lugar ocupado, não gostou nada. Sem negociação, chamou o motorista para solucionar a questão. O velhinho foi obrigado a desocupar o espaço, levantou e caminhou em direção ao seu verdadeiro endereço. Mas não chegou até lá, ocupou outro assento ainda vago, transferindo o problema para mais adiante. Logo, logo se repetiria a cena. Desta vez o motorista conduziu o cliente teimoso até o lugar que lhe era de direito.
Pendenga resolvida, vamos partir. O motorista, sem fazer checagem da lotação, deu partida. Menos de dez minutos, nova encrenca: uma adolescente havia comprado passagem sem definição de assento. O que estivesse vago ela ocupava, o dono chegava, ela se levantava e ocupava outro.
Desta vez, o verdadeiro dono do pedaço havia embarcado, mas permanecera em pé conversando com outros passageiros. Quando procurou seu lugar, estava ocupado pela invasora.  Protesto. O ônibus para. O motorista se inteira do imbróglio. A passageira que “expulsara” o velhinho apresenta predicados de rábula, inicia um discurso, faz acusações à empresa, tira fotos.  O motorista dá o veredito: “Vou estacionar o ônibus e ligar para a rodoviária, eles que resolvam o assunto”.
Conclusão: daí a pouco mais de meia hora, chega novo ônibus, maior e mais bem conservado. Faz-se a “conexão”. A viagem continua, mas a insatisfação, pelo atraso e pela desorganização, parecia aflorar de cada semblante. Havia reclamantes, costumeiros usuários do serviço, alegando falta de consideração da empresa para com os clientes em relação à qualidade dos serviços prestados.
João Pessoa e Natal são capitais de estado, cidades com atrativos turísticos, itens constantes da produtividade de suas economias, por isso não é fácil entender por que a empresa responsável pelo transporte de passageiros (clientes) entre elas não é obrigada a dispensar atenção adequada aos seus usuários, prestando-lhes serviço de qualidade a que são merecedores.
Com a palavra o senhor ministro do Turismo, que é natural da região, e os demais dirigentes de órgãos e entidades integrantes das cadeias produtiva e organizacional relativas ao setor.


* Veterano e escritor – publicou Memórias de uma Tríplice Jornada

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