TURISMO E ANIVERSÁRIO
Combinação
Perfeita
Por
Espedito Moreira de Mello*
A cada ano, as pessoas fazem aniversário;
no seu dia, todas comemoram; os eventos variam, vai da simples expressão “Feliz
Aniversário” até a realização de grandes banquetes, tudo dentro daquilo que é
possível realizar. Minha mulher aniversaria em novembro eu, em janeiro. Nos
respectivos dias, costumamos dar folga ao nosso rancho, arrumamos a barraca e
vamos “acampar” em algum lugar “alcançável”.
Numa
excursão turística a João Pessoa/PB, organizada e patrocinada pela Associação
de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais, seção de Natal, em meados de 2015,
ficamos maravilhados com as praias visitadas naquela capital. Em vista disso,
decidimos que passaríamos o meu octogésimo
quarto aniversário, prestes a ocorrer, numa daquelas praias. Fizemos
reserva num hotel, com linda vista para o mar e fácil acesso à praia de
Manaíra. Desta forma, estava concluída a primeira etapa do planejamento.
João Pessoa, assim como Natal, é uma
cidade de belos atrativos turísticos, dista da capital potiguar cerca de 200km.
De automóvel, levaria pouco mais de 2h, a BR-101 é duplicada nesse trecho,
portanto, livre de engarrafamentos. De avião, seria mais rápido ainda, ou de
ônibus – dos três – o mais lento, digamos: três horas no máximo. O navio havia
sido descartado.
Em outros tempos, teria escolhido o
automóvel. Mas agora, avaliando desconhecer o trânsito daquela cidade,
assustava-me a possibilidade de me estressar, coisa que estava fora de questão.
Tentei o avião, mas nenhuma companhia tinha voos para nos atender nos horários
desejados. Então restava o ônibus. Minha mulher elogiou os serviços da Viação
Nordeste. Ela, há pouco, havia ido a Fortaleza por essa empresa. Ônibus
confortáveis, segundo ela, dois andares, sendo o primeiro equipado com poltronas-leito.
Verifiquei a disponibilidade de passagens. Tudo nos conformes de horários e
tempo de viagem.
No ato de adquirir os bilhetes, tudo
certo. Confirmado. Havia veículos e horários compatíveis com as nossas necessidades.
Porém, nada de ônibus de dois andares ou poltronas-leito. Ah! Bobagem. São
apenas três horas de viagem, pensei.
A funcionária emitiu as passagens para ida e volta. Segundo
ela, nós ocuparíamos os assentos mais confortáveis do veículo, para a ida e
para a volta. Quanta deferência.
O
embarque -
Na hora da partida, cadê o ônibus? Foi abastecer, ouviu-se uma voz. Resultado, partiu
com quase meia hora de atraso. Os tais
assentos confortáveis, localizados logo na entrada, estavam em lastimável estado
de conservação. Os painéis à nossa frente, mal conservados, estavam repletos de
informações de mau gosto, balançavam e faziam barulho logo que o veículo se movimentava;
a janela, com o dispositivo de fechamento quebrado, competia em barulho com os painéis
frontais – minha mulher deu um jeitinho de prender o vidro, mas abriu uma
fresta por onde entraria corrente de ar muito irritante –, não havia visão
externa, estávamos sem comunicação visual para frente e para os lados; o
puxador da porta, que isola o motorista dos passageiros, preso apenas por uma
das extremidades; as instalações sanitárias, embora limpas, não tinham sequer
uma gota d’agua. Natal e João Pessoa são cidades com muitas atrações
turísticas, certamente, mereciam um transporte interestadual de melhor
qualidade.
Quando o ônibus partiu, muitos dos
assentos não haviam sido ocupados. Isso fazia supor que haveria muitas paradas,
o famoso pinga, pinga. Foi o que aconteceu. Felizmente, não houve atraso
considerável em relação ao horário previsto para a chegada. Foi um alívio.
Também é verdade que não houve aquela paradinha para “tirar a água do joelho”.
Quem não aguentou, teve de usar as instalações sanitárias em condições
higiênicas pouco recomendáveis.
Ao chegarmos à cidade, fomos direto ao
guichê da empresa negociar a troca dos assentos para a volta a Natal. Fosse
qual fosse o estado de conservação do veículo, qualquer outro lugar seria
melhor do que o utilizado na ida.
Na medida em que o funcionário nos atendia,
conversava com outro senhor, que se postara ao nosso lado. A conversa parecia
amigável. Em dado momento, ele (o encosto) nos perguntou se iríamos precisar de
táxi. Vamos sim, mas vamos pegar o primeiro da fila, respondi. Tudo bem, disse
ele, mas aqui não tem problema, não; o senhor pode escolher qualquer carro que
estiver na fila, o meu é este aqui à nossa frente. Concordei, mas depois de ele
afirmar conhecer o endereço que lhe mostrei e dizer o tempo aproximado para se
chegar lá. Trinta minutos, disse ele. Exatamente, esse foi o tempo gasto, para
fazê-lo. No itinerário, o taxista parecia um piloto de stock-car. Deve ter
cometido várias infrações. Foi o bastante para não me arrepender por não ter
feito a viagem de automóvel. O trânsito estava pesado, Enfim, chegamos...
inteiros.
A
estada – Ótima
recepção, contudo havíamos chegado pouco mais de uma hora antes do previsto
para o check-in. Ainda não havia apartamento disponível. Enquanto isso,
visitamos o restaurante do hotel e aproveitamos para almoçar uma carne de sol à
moda da casa.
Finalmente, fomos conduzidos ao nosso
apartamento. Instalações com requisitos de hotel quatro estrelas, conveniado
com a Bancorbras, eram confortáveis.
Para alcançar a praia, bastava
atravessar uma via de trânsito de sentido único, e um calçadão muito bem
conservado. O conjunto mar e praia fornecia uma linda vista. A praia tem faixa
de areia razoável e comprimento de certa de 3km. Pena! Tanta praia para pouca
frequência de usuários. É possível que a resposta para isso estivesse na água,
infestada de algas, prejudicando o prazer de um mergulho confortável. Também,
não havia os famosos quiosques de apoio, banheiros e outras facilidades. Quando
muito um carrinho vendendo coco verde. De qualquer forma, foi uma estada
agradável. Diferente.
O
retorno
– Feito o check-out, tomamos um táxi para a rodoviária. O taxista parecia
conhecer todos os atalhos, com calma e segurança, chegamos ao destino sem
sobressaltos.
Embarque: desembaraço para o a
plataforma, ônibus estacionado, check-in – tudo no horário previsto – ocupamos nossos
assentos.
O estado de conservação do veículo não
diferençava do anterior, mas pelo menos o espaço que ocupávamos tinha um pouco
mais de conforto. No horário previsto, ônibus lotado, tudo pronto para a
partida, era um cenário perfeito. No entanto, dois passageiros melaram o
ambiente. Um idoso (meu contemporâneo), com certa dificuldade para se
locomover, havia comprado passagem cujo assento (poltrona 41) ficava na parte
traseira do veículo. Ao embarcar, ocupou o primeiro assento que estava vago.
Esperava ficar ali, desde que o verdadeiro ocupante concordasse. Não deu sorte.
O dono, ou melhor, a dona chegou, viu seu lugar ocupado, não gostou nada. Sem
negociação, chamou o motorista para solucionar a questão. O velhinho foi
obrigado a desocupar o espaço, levantou e caminhou em direção ao seu verdadeiro
endereço. Mas não chegou até lá, ocupou outro assento ainda vago, transferindo
o problema para mais adiante. Logo, logo se repetiria a cena. Desta vez o
motorista conduziu o cliente teimoso até o lugar que lhe era de direito.
Pendenga resolvida, vamos partir. O
motorista, sem fazer checagem da lotação, deu partida. Menos de dez minutos,
nova encrenca: uma adolescente havia comprado passagem sem definição de
assento. O que estivesse vago ela ocupava, o dono chegava, ela se levantava e
ocupava outro.
Desta vez, o verdadeiro dono do pedaço havia
embarcado, mas permanecera em pé conversando com outros passageiros. Quando
procurou seu lugar, estava ocupado pela invasora. Protesto. O ônibus para. O motorista se
inteira do imbróglio. A passageira que “expulsara” o velhinho apresenta
predicados de rábula, inicia um discurso, faz acusações à empresa, tira fotos. O motorista dá o veredito: “Vou estacionar o
ônibus e ligar para a rodoviária, eles que resolvam o assunto”.
Conclusão: daí a pouco mais de meia
hora, chega novo ônibus, maior e mais bem conservado. Faz-se a “conexão”. A
viagem continua, mas a insatisfação, pelo atraso e pela desorganização, parecia
aflorar de cada semblante. Havia reclamantes, costumeiros usuários do serviço,
alegando falta de consideração da empresa para com os clientes em relação à
qualidade dos serviços prestados.
João Pessoa e Natal são capitais de
estado, cidades com atrativos turísticos, itens constantes da produtividade de
suas economias, por isso não é fácil entender por que a empresa responsável
pelo transporte de passageiros (clientes) entre elas não
é obrigada a dispensar atenção adequada aos seus usuários, prestando-lhes
serviço de qualidade a que são merecedores.
Com a palavra o senhor ministro do
Turismo, que é natural da região, e os demais dirigentes de órgãos e entidades
integrantes das cadeias produtiva e organizacional relativas ao setor.
* Veterano e
escritor – publicou Memórias de uma Tríplice Jornada
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