SETE
MANHÃS
Juntei-me
a sete manhãs seguidas durante uma semana. E todas elas foram diferentes uma da
outra.
Em
todas as manhãs teve um sol. Mas o sol não se fez rei como propagado. Ao
contrário, o sol serviu a sua manhã como um servo no reino de cada manhã.
Em
todas as manhãs teve um orvalho. Mas o orvalho se fez brilhar conforme cada
manhã aparecia.
Em
todas as manhãs teve um galo cantando. Mas a cada manhã o galo cantava um canto
da manhã que lhe pedia.
Em
todas as manhãs teve um rádio sintonizado na mesma estação. Mas o mesmo rádio e
a mesma estação eram o mesmo rádio e a mesma estação de cada manhã que se
ouvia.
Em
todas as manhãs teve um rio. Mas as águas do rio correram de acordo como cada
manhã queria.
Em
todas as manhãs foi servido um café da manhã. Mas o café da manhã teve o gosto
que cada manhã preferia.
Em
todas as manhãs os pais levaram as crianças à escola. Era a mesma escola e eram
as mesmas crianças. Mas a mesma escola e as mesmas crianças eram a mesma escola
e as mesmas crianças da manhã de cada dia.
Em
todas as manhãs o mesmo jornaleiro entregou jornais a seus leitores. Mas o
mesmo jornaleiro, os mesmos jornais e os mesmos leitores eram o jornaleiro, os
jornais e os leitores da manhã em que se lia.
Em
todas as manhãs tudo feito sempre igual. Mas tudo o que foi feito sempre igual
teve a satisfação de ser tudo sempre igual à manhã que cada manhã exigia.
E
assim se passou uma semana. E eu não sei dizer como é uma manhã. E foram sete
oportunidades de manhãs seguidas. Mas todas elas foram diferentes uma da outra.
Gilberto
Costa
Imagem: Gilberto Costa

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