quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Português, Matemática e o Ano Letivo

(*) Por Espedito Moreira de Mello

O ano letivo dura 365 dias. Termina um e começa o outro. Ao fim de cada período, muitos pais e alunos estão felizes e radiantes com os resultados alcançados. Os alunos, porque deram um passo adiante; os pais, porque veem os filhos evoluírem rumo a um universo ainda desconhecido. E nem se importam (?) com as despesas que farão para a renovação da matrícula do período seguinte. Todavia, isso, infelizmente, não é uma regra absoluta. Nesse universo, alguns alunos não conseguiram o êxito desejado, sobrando frustrações para ambos os lados.
O exposto pode ser aplicado a qualquer estágio do processo educativo – envolve os ciclos do jardim de infância à universidade. Alguns estudiosos afirmam que o processo educativo se inicia no ventre da matriz. Se isso faz sentido, o ser humano, que é produto do meio, requer dessa matrizcomportamento adequado à formação de um ser perfeitamente saudável que vai facilitar o processo contínuo de aquisição do conhecimento intelectual. Para tanto, é necessário que esse ser, ao receber a luz, encontre o ambiente favorável ao aprendizado.
A gravidez não deveria ser o resultado de uma simples relação sexual entre homem emulher. O planejamento prévio é o ideal. Avaliar quais os pontos fortes e os pontos fracos que caracterizam o ambiente onde esse novo ser vai se desenvolver, não pode ser subestimado.
O progresso do desenvolvimento intelectual é imperativo de cada país e fundamental para a interação além-fronteiras. Contudo, não basta só o tempo para que isso ocorra. É necessário que o processo educativo disponha de elementos suficientemente capazes para lapidar cada produto (o aluno), a fim de dotá-lo de características essenciais para a troca de conhecimentos, no mesmo nível intelectual, com outros semelhantes de nações conhecidamente desenvolvidas nesse setor.
Como está o Brasil nesse processo? Levando em consideração o que está sendo publicadoem jornais e periódicos, o país está longe do ideal. Os instrumentos de avaliação do conhecimento no âmbito do Ensino Fundamental, especialmente a Prova Brasil, aplicada em todo o país, e que serve de base para a elaboração do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, considerando apenas o conhecimento das disciplinas de português e matemática, evidencia que a educação básica ainda está longe de alcançar um patamar ideal.
Quais são as causas disso? Sobram respostas, discussões e sugestões. Há muitos intelectuais dizendo o que fazer. Um dos exemplos é a chamada federalização do Ensino Fundamental que passaria à responsabilidade da União em razão de essa dispor dos recursos financeiros necessários para uma padronização do ensino. A União assumiria essa responsabilidade no lugar dos municípios, quase todos carentes de meios.
Há um ditado que apregoa: “Dizer o que fazer é fácil, como fazer é que é difícil”.
Um “cego não pode ser guia de outro cego”, é outro dito popular. Conclui-se disso que para alguém ser um bom atleta, além das qualidades físicas ideais, precisa de um ótimo instrutor, emérito conhecedor da modalidade específica. Sem isso, o profissional não alcançará a perfeição desejada para competir e ser um vencedor. Pode até dar algumas voltas no quarteirão, no entanto, jamais vencerá uma maratona.
Não é preciso ser um intelectual para saber que o sistema educacional carece de bons professores, capacitados à transmissão do conhecimento necessário e desejado por todos. O ciclo do Ensino Fundamental – base do aprendizado –, deve exigir profissionais competentes em todas as disciplinas, especialmente, em língua portuguesa e em matemática. Sem o perfeito conhecimento dessas duas matérias, o português à frente, o aluno terá, sempre, dificuldades para entender e assimilar as demais disciplinas ao longo de sua vida estudantil e profissional.
Pensando nisso, como são recrutados os nossos professores para esse tipo de conhecimento? Segundo levantamento feito atualmente pela imprensa, a revista Época em particular, mostra que a seleção para o curso de pedagogia das universidades tem sido feita pela pior maneira possível. Cita a revista: o aluno do curso de pedagogia é aquele que não gosta ou não sabe matemática e não é tão bom em português. São os piores classificados nos vestibulares. Os melhores vão para outros cursos: medicina, engenharia, advocacia. Cita inclusive que a nossa melhor universidade, que não é tão boa assim em nível mundial, aceita matricular no curso de pedagogia candidatos que alcançaram apenas metade dos pontos válidos para serem aprovados no vestibular.
Tudo isso é bastante lamentável e mostra que os responsáveis pelo processo educativo público no país têm muito trabalho a desenvolver. Não só criando estruturas adequadas, mas também preparando e remunerando, dignamente, os professores. Dizem que os brasileiros são hábeis em imitar os outros, daí a alcunha pouco aceitável que se lhes atribuem. Não é feio imitar. E se queremos imitar, podemos escolher países como Suécia, Finlândia ou Coreia do Sul.
Conhecer e aplicar bem a língua pátria é um imperativo para todos os povos. Se o indivíduo não domina bem a sua língua, terá dificuldades com a matemática. E, se não tiver adquirido uma boa base de matemática, vai ter sérias dificuldades em matérias como física, estatística, química.
Sou daqueles que entende ser a transmissão de conteúdo educativo ao aluno uma atribuição do professor. Mas isso não exclui os pais ou os responsáveis de fazerem o acompanhamento concomitante. Num primeiro momento, nem é necessário questionar o que e como o processo é conduzido pelo professor. O que importa é entender e avaliar se o aluno está acompanhando e assimilando bem o que está sendo transmitido. As discrepâncias deverão ser levadas e discutidas nas chamadas reuniões de pais e mestres. A ausência de comprometimento dos pais pode resultar no fracasso do resultado esperado a cada fim de ano letivo.
            Na verdade, há um conjunto de atores em cena: professores, alunos, pais, gestores. Cada um precisa desempenhar a contento o seu papel. Isso dará as devidas cores ao “espetáculo” do ensinar-aprender, que é um compromisso sério e que precisa ser compreendido em magnitude por todos.

(*) Veterano, escritor, publicou “Memórias de uma Tríplice Jornada”.

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