(*) Por Espedito
Moreira de Mello
O ano letivo dura 365 dias. Termina um e
começa o outro. Ao fim de cada período, muitos pais e alunos estão felizes e
radiantes com os resultados alcançados. Os alunos, porque deram um passo
adiante; os pais, porque veem os filhos evoluírem rumo a um universo ainda
desconhecido. E nem se importam (?) com as despesas que farão para a renovação
da matrícula do período seguinte. Todavia, isso, infelizmente, não é uma regra
absoluta. Nesse universo, alguns alunos não conseguiram o êxito desejado,
sobrando frustrações para ambos os lados.
O exposto pode ser aplicado a qualquer
estágio do processo educativo – envolve os ciclos do jardim de infância à
universidade. Alguns estudiosos afirmam que o processo educativo se inicia no
ventre da matriz. Se isso faz sentido, o ser humano, que é produto do meio,
requer dessa matrizcomportamento adequado à formação de um ser perfeitamente
saudável que vai facilitar o processo contínuo de aquisição do conhecimento
intelectual. Para tanto, é necessário que esse ser, ao receber a luz, encontre
o ambiente favorável ao aprendizado.
A gravidez não deveria ser o resultado
de uma simples relação sexual entre homem emulher. O planejamento prévio é o
ideal. Avaliar quais os pontos fortes e os pontos fracos que caracterizam o
ambiente onde esse novo ser vai se desenvolver, não pode ser subestimado.
O progresso do desenvolvimento
intelectual é imperativo de cada país e fundamental para a interação
além-fronteiras. Contudo, não basta só o tempo para que isso ocorra. É
necessário que o processo educativo disponha de elementos suficientemente
capazes para lapidar cada produto (o aluno), a fim de dotá-lo de
características essenciais para a troca de conhecimentos, no mesmo nível
intelectual, com outros semelhantes de nações conhecidamente desenvolvidas
nesse setor.
Como está o Brasil nesse processo?
Levando em consideração o que está sendo publicadoem jornais e periódicos, o
país está longe do ideal. Os instrumentos de avaliação do conhecimento no
âmbito do Ensino Fundamental, especialmente a Prova Brasil, aplicada em todo o
país, e que serve de base para a elaboração do Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica - IDEB, considerando apenas o conhecimento das disciplinas de
português e matemática, evidencia que a educação básica ainda está longe de
alcançar um patamar ideal.
Quais são as causas disso? Sobram
respostas, discussões e sugestões. Há muitos intelectuais dizendo o que fazer.
Um dos exemplos é a chamada federalização do Ensino Fundamental que passaria à
responsabilidade da União em razão de essa dispor dos recursos financeiros
necessários para uma padronização do ensino. A União assumiria essa
responsabilidade no lugar dos municípios, quase todos carentes de meios.
Há um ditado que apregoa: “Dizer o que
fazer é fácil, como fazer é que é difícil”.
Um “cego não pode ser guia de outro
cego”, é outro dito popular. Conclui-se disso que para alguém ser um bom
atleta, além das qualidades físicas ideais, precisa de um ótimo instrutor,
emérito conhecedor da modalidade específica. Sem isso, o profissional não
alcançará a perfeição desejada para competir e ser um vencedor. Pode até dar
algumas voltas no quarteirão, no entanto, jamais vencerá uma maratona.
Não é preciso ser um intelectual para
saber que o sistema educacional carece de bons professores, capacitados à
transmissão do conhecimento necessário e desejado por todos. O ciclo do Ensino
Fundamental – base do aprendizado –, deve exigir profissionais competentes em
todas as disciplinas, especialmente, em língua portuguesa e em matemática. Sem o
perfeito conhecimento dessas duas matérias, o português à frente, o aluno terá,
sempre, dificuldades para entender e
assimilar as demais disciplinas ao longo de sua vida estudantil e profissional.
Pensando nisso, como são recrutados os
nossos professores para esse tipo de conhecimento? Segundo levantamento feito
atualmente pela imprensa, a revista Época em particular, mostra que a seleção
para o curso de pedagogia das universidades tem sido feita pela pior maneira
possível. Cita a revista: o aluno do curso de pedagogia é aquele que não gosta
ou não sabe matemática e não é tão bom em português. São os piores
classificados nos vestibulares. Os melhores vão para outros cursos: medicina,
engenharia, advocacia. Cita inclusive que a nossa melhor universidade, que não
é tão boa assim em nível mundial, aceita matricular no curso de pedagogia
candidatos que alcançaram apenas metade dos pontos válidos para serem aprovados
no vestibular.
Tudo isso é bastante lamentável e mostra
que os responsáveis pelo processo educativo público no país têm muito trabalho
a desenvolver. Não só criando estruturas adequadas, mas também preparando e
remunerando, dignamente, os professores. Dizem que os brasileiros são hábeis em
imitar os outros, daí a alcunha pouco aceitável que se lhes atribuem. Não é
feio imitar. E se queremos imitar, podemos escolher países como Suécia,
Finlândia ou Coreia do Sul.
Conhecer e aplicar bem a língua pátria é
um imperativo para todos os povos. Se o indivíduo não domina bem a sua língua,
terá dificuldades com a matemática. E, se não tiver adquirido uma boa base de
matemática, vai ter sérias dificuldades em matérias como física, estatística,
química.
Sou daqueles que entende ser a
transmissão de conteúdo educativo ao aluno uma atribuição do professor. Mas
isso não exclui os pais ou os responsáveis de fazerem o acompanhamento
concomitante. Num primeiro momento, nem é necessário questionar o que e como o
processo é conduzido pelo professor. O que importa é entender e avaliar se o
aluno está acompanhando e assimilando bem o que está sendo transmitido. As
discrepâncias deverão ser levadas e discutidas nas chamadas reuniões de pais e
mestres. A ausência de comprometimento dos pais pode resultar no fracasso do
resultado esperado a cada fim de ano letivo.
Na verdade, há um conjunto de atores
em cena: professores, alunos, pais, gestores. Cada um precisa desempenhar a
contento o seu papel. Isso dará as devidas cores ao “espetáculo” do
ensinar-aprender, que é um compromisso sério e que precisa ser compreendido em
magnitude por todos.
(*) Veterano, escritor, publicou “Memórias de uma
Tríplice Jornada”.
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