Carta endereçada pelo Clube Naval ao Presidente das Organizações Globo
No início
de 1964 o Brasil estava à beira do abismo. Uma inflação galopante e um
governo fraco, em sua maioria, composto de radicais de esquerda que
estimulavam e instigavam a indisciplina nas Forças Armadas para, assim,
tentar vergar sua coluna vertebral, sempre apoiada no binômio hierarquia
e disciplina, pilares constitucionais de sua base
organizacional.
Caminhávamos, celeremente para nos tornar uma república sindical.
Todo
esse processo de deliberada instalação do caos no país, debilitando seu
Poder Militar e as instituições civis, certamente se encontram nos
arquivos desse jornal, como de toda a imprensa da época. São inúmeros os
registros dos episódios protagonizados pelo governo e que antecedem a
março de 1964, como a Revolta dos Sargentos de Brasília, a reunião do
presidente da República com praças das Forças Armadas e Auxiliares no
Automóvel Clube, a amotinação de cabos e marinheiros no Sindicato dos
Metalúrgicos e muitos outros graves episódios.
Havia,
sim, uma revolução em marcha. Aquela que, em pleno panorama bipolar e
irracional “Leste-Oeste”, queria fazer triunfar, no Brasil, como já
ocorrera em outros países, o regime do partido único, da única verdade,
da imprensa única. Enfim, do obscurantismo, também único.
Em
contrapartida a essa situação, nascida no seio da sociedade civil,
também se pôs em marcha uma contrarrevolução, imediatamente apoiada
pelos militares. Heroicamente comandada pelas mulheres brasileiras, a
sociedade, aos milhares, fez-se às ruas em defesa da democracia.
Os
homens de bem deste país não podiam ficar alheios ao clamor. Toda a
grande Imprensa, a Igreja, a OAB, a ABI, políticos e outras
significantes instituições aderiram, na primeira hora, ao contragolpe
brasileiro.
Cumpre-me
registrar, orgulhoso, que naqueles dias de mares encapelados, este
clube foi sede da resistência, um quartel-general onde destemidos
oficiais se uniram para manter erguida a bandeira da liberdade.
Tudo isso, senhor presidente, está fartamente documentado no novo sítio eletrônico dessa portentosa organização.
E,
passado quase meio século daqueles dias, vem agora o jornal confessar
que cometeu um erro. Essa nova postura editorial nos leva a refletir,
perplexos, que a pena de Roberto Marinho deveria, pois, ter apoiado o
estado de coisas de então. Inimaginável.
Trata-se,
portanto, de um mea culpa decepcionante para a memória dos que
acompanharam aqueles dramáticos episódios da vida nacional. Em vez de
erro, seria mais aceitável assumir eventuais divergências com os rumos
que o movimento de 64 tomou, segundo o entendimento do jornal.
Ledo
engano acreditar que, assim procedendo, estão as Organizações Globo
seguindo a vontade da Nação. Esta, por certo, nunca renegou seus valores
morais e sua tradição cultural. Jamais correu atrás de grupos
minoritários, escandalosamente estrepitosos e detentores de
subfilosofias de alta rotatividade, sempre ao sabor dos eventuais donos
do poder. Longe disso, a esmagadora maioria da sociedade deseja ordem,
decência, prosperidade e coerência.
E
é por isso, senhor Presidente, que as Forças Armadas da nação
brasileira, cujo nascimento coincide com o alvorecer da própria Pátria,
continuam, desde sempre, a liderar pesquisas de opinião sobre a
credibilidade das instituições nacionais. Não têm do que se arrepender.
Sabemos ser possível mudar de nome, de nacionalidade, de clube, até de sexo.
Mas, é impossível mudar a História.
Paulo Frederico Soriano Dobbin
Vice-Almirante (Ref-FN)
Presidente
Um comentário:
HURRA !!! O ÙLTIMO PARÁGRAFO É VICERAL.
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