Mais um interessante fato narrado pelo nosso famoso colunista Espedito Moreira do RN
Veterano FN e Escritor.
O
CORAÇÃO
Espedito Moreira *
É
comum, na nossa cultura, ouvirmos expressões como estas: “Vou fazer o que o meu
coração mandar”; “Antes de decidir, ouça o seu coração”; “Sua empresa não vai
melhor porque você decide, muitas vezes, com o coração”; “Se você acredita no
seu coração, vá em frente”; “Meu coração não foi com aquela pessoa”. E assim
por diante.
Ontem,
liguei a televisão para assistir ao noticiário local. Na abertura, como sempre,
os apresentadores descreveram um rosário de crimes cometidos, na sua maioria,
por menores de idade ou com a participação deles, fato que se repete a cada
dia. Anunciaram, entre outros assuntos, a visita do juiz titular da Vara da
Criança e do Adolescente que aceitara o convite para se manifestar a respeito
dessa situação desagradável que atormenta toda a população do Estado.
No
momento da entrevista, o juiz foi respondendo às perguntas que lhe eram feitas.
Disse que estava no atual cargo há dezoito anos, que a estrutura do Estado para
cuidar da criança e do adolescente estava um verdadeiro caos, que estava
fazendo reuniões localizadas para avaliar e encontrar uma solução satisfatória,
que estavam sendo adotadas ações para punir os culpados pela má administração
dos recursos públicos, muitas vezes, em benefício próprio.
Ao
responder à pergunta do repórter quanto ao prazo para solução do problema,
disse: “Espero em breve ter tudo isso equacionado”. O repórter insistiu: “Um
prazo excelência...”. Sua excelência foi rápido: “Trinta dias.” O repórter, como não
acreditando nas palavras do magistrado, tornou a perguntar: “O senhor acredita de coração que, no final desse prazo,
teremos o resultado desejado?”
De coração? Nem ouvi a
resposta do meritíssimo. O que os meus sentidos haviam captado e transmitido ao
coração, via sistema nervoso, trouxeram mais insegurança que o fizeram bater
mais forte e aumentar o bombeamento sanguíneo.
Sem
querer fazer qualquer juízo de valor sobre as informações do magistrado, mas
não as ignorando, sinto que o meu coração vai ter muito trabalho ainda até que
se chegue a uma solução aceitável. Quando saio à rua e observo alguém
“suspeito” me seguindo, meu cérebro avisa ao coração: “prepare-se que pode
haver encrenca”. Acontece da mesma forma, quando me aproximo de casa e vejo
alguém desconhecido a alguns metros de distância do portão ou, à noite, um
motociclista, visto pelo retrovisor, se
aproximando. Coitado do coração! Não pode relaxar nem um pouquinho.
O
coração vem ao mundo com suas funções logísticas preestabelecidas. Primeira,
levar através das artérias o sangue rico em oxigênio a todos os órgãos e aos
tecidos do corpo, desde o ponto mais alto da cabeça (córtex cerebral) até a
chamada sola do pé. Segunda, recolher através das veias o sangue venoso (rico
em gás carbônico e pobre em oxigênio) de volta ao coração e daí até aos
pulmões, onde será oxigenado e retornará ao coração para novo ciclo.
O
coração não pensa, não decide. Age conforme preestabelecido, podendo alterar
seu ritmo de trabalho conforme “ordens” recebidas do cérebro. Para sua maior
eficácia, faz apenas um pedido:oxigênio
na medida certa e nenhuma gordura.
*Veterano,
escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE/RN.
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