domingo, 1 de junho de 2014

O Coração - Por Espedito Moreira

Mais um interessante fato narrado pelo nosso famoso colunista Espedito Moreira do RN 
 Veterano FN e Escritor.
O CORAÇÃO
Espedito Moreira *
É comum, na nossa cultura, ouvirmos expressões como estas: “Vou fazer o que o meu coração mandar”; “Antes de decidir, ouça o seu coração”; “Sua empresa não vai melhor porque você decide, muitas vezes, com o coração”; “Se você acredita no seu coração, vá em frente”; “Meu coração não foi com aquela pessoa”. E assim por diante.
Ontem, liguei a televisão para assistir ao noticiário local. Na abertura, como sempre, os apresentadores descreveram um rosário de crimes cometidos, na sua maioria, por menores de idade ou com a participação deles, fato que se repete a cada dia. Anunciaram, entre outros assuntos, a visita do juiz titular da Vara da Criança e do Adolescente que aceitara o convite para se manifestar a respeito dessa situação desagradável que atormenta toda a população do Estado.
No momento da entrevista, o juiz foi respondendo às perguntas que lhe eram feitas. Disse que estava no atual cargo há dezoito anos, que a estrutura do Estado para cuidar da criança e do adolescente estava um verdadeiro caos, que estava fazendo reuniões localizadas para avaliar e encontrar uma solução satisfatória, que estavam sendo adotadas ações para punir os culpados pela má administração dos recursos públicos, muitas vezes, em benefício próprio.
Ao responder à pergunta do repórter quanto ao prazo para solução do problema, disse: “Espero em breve ter tudo isso equacionado”. O repórter insistiu: “Um prazo excelência...”. Sua excelência foi rápido:  “Trinta dias.” O repórter, como não acreditando nas palavras do magistrado, tornou a perguntar: “O senhor acredita de coração que, no final desse prazo, teremos o resultado desejado?”
De coração? Nem ouvi a resposta do meritíssimo. O que os meus sentidos haviam captado e transmitido ao coração, via sistema nervoso, trouxeram mais insegurança que o fizeram bater mais forte e aumentar o bombeamento sanguíneo.
Sem querer fazer qualquer juízo de valor sobre as informações do magistrado, mas não as ignorando, sinto que o meu coração vai ter muito trabalho ainda até que se chegue a uma solução aceitável. Quando saio à rua e observo alguém “suspeito” me seguindo, meu cérebro avisa ao coração: “prepare-se que pode haver encrenca”. Acontece da mesma forma, quando me aproximo de casa e vejo alguém desconhecido a alguns metros de distância do portão ou, à noite, um motociclista, visto pelo retrovisor,  se aproximando. Coitado do coração! Não pode relaxar nem um pouquinho.
O coração vem ao mundo com suas funções logísticas preestabelecidas. Primeira, levar através das artérias o sangue rico em oxigênio a todos os órgãos e aos tecidos do corpo, desde o ponto mais alto da cabeça (córtex cerebral) até a chamada sola do pé. Segunda, recolher através das veias o sangue venoso (rico em gás carbônico e pobre em oxigênio) de volta ao coração e daí até aos pulmões, onde será oxigenado e retornará ao coração para novo ciclo.
O coração não pensa, não decide. Age conforme preestabelecido, podendo alterar seu ritmo de trabalho conforme “ordens” recebidas do cérebro. Para sua maior eficácia, faz apenas um pedido:oxigênio  na medida certa e nenhuma gordura.
*Veterano, escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE/RN.

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