segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Um oficial da Marinha de Guerra


Ciduca Barros
É natural para aqueles que serviram compulsoriamente nas Forças Armadas, por uma questão de ufania patriótica, gostar de comentar a sua passagem pela caserna.
Comumente, escutamos os amigos, principalmente os mais velhos, iniciarem algumas histórias com “no meu tempo no Exército”.
Sabemos, sobejamente, que a estada obrigatória nos quartéis militares nada tem de charmosa.
É muito bom falar sobre isto hoje, entretanto, a passagem de um jovem pelos quartéis militares nada tem de encantamento.
Quem esteve lá sabe muito bem disso.
Uma prova cabal é que o nome daquela convocação de antigamente era “serviço militar obrigatório”.
E supomos que nada que é compulsório é tido como prazeroso.
Vocês, que estiveram lá, concordam comigo?
Seu Arnaldo não era diferente dos demais reservistas.
Na década de 1930, ele serviu na Marinha de Guerra do Brasil como simples praça e, naturalmente, tinha muito orgulho desse fato.
Ele era tão vaidoso do seu tempo de Base Naval de Natal, que andava com o “certificado de reservista” na carteira, e todas as vezes que se reportava àquele tempo inesquecível (para ele), puxava o certificado e o exibia publicamente.
Na década de 1960, mais de trinta anos depois da sua passagem pela Armada Brasileira, uma desgraça (para ele) aconteceu.
Aquele altivo ex-marinheiro perdeu, nas ruas da sua cidade, o seu precioso “Certificado de Reservista da Marinha de Guerra do Brasil”.
E agora? Como reparar aquela perda?
Desesperado e triste, ele anunciou a seguinte nota na rádio local: “Pede-se a quem encontrou, ou vier a encontrar, um Certificado de Reservista da Marinha de Guerra do Brasil, pertencente ao Capitão de Mar e Guerra Arnaldo Bernardo de Araújo, favor entregar no seu endereço na Rua Tal, nº Qual, nesta cidade, que será regiamente gratificado”.
Oficial? E ele não foi um simples marinheiro?
Um dos seus inúmeros filhos que ouvira aquele aviso, à noite, na hora do jantar com todos à mesa, perguntou:
– Papai, me tire uma dúvida? Qual era a sua patente na Marinha?
– Eu fui soldado, meu filho!
– Simples soldado? E como a nota que está sendo lida na rádio diz que o senhor é Capitão de Mar e Guerra?
Daí, numa demonstração de que ele nunca “abandonou” a sua Marinha de Guerra (apesar de já decorridos mais de 30 anos), ele deu uma explicação que os seus filhos nunca esqueceram:
– E se eu ainda estivesse lá? Se eu nunca tivesse dado baixa? Eu seria o quê, atualmente?
Do: Bar de Ferreirinha

Um comentário:

Poeta Mauro Leal disse...

Muitos conseguiram, porque ele não conseguiria, está certo. Muito bom, parabéns.