quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Paula, A Sargento

7 DE MARÇO

DIA DO FUZILEIRO NAVAL




Paula a Baiana.
Óleo sobre tela, de Álvaro Martins.

Antes de a Marinha do Brasil permitir o Corpo Feminino em suas fi­lei­ras, antes mes­mo do voto fe­mi­ni­no, nós, do Ba­ta­lhão Naval, já tí­nha­mos eleito a fuzileira ho­no­rá­ria: Pau­la, a Bai­a­na. Che­gou de man­si­nho, quan­do éra­mos Cor­po de In­fan­ta­ria da Ma­ri­nha, na Ilha das Co­bras, lá pelos idos de 1895. Trazia na ba­ga­gem ape­nas o ta­bu­lei­ro com bo­li­nhos de ta­pi­o­ca, pés-de-moleque, cus­cuz, la­ran­jas, ba­na­nas e a sa­tis­fa­ção de aten­der aos sol­da­dos e a todos os que acor­ri­am para re­fei­ções li­gei­ras.
Com o tempo, a curiosa mulher estabeleceu relação tão har­mo­ni­o­sa com a tropa, que foi autorizada a instalar-se no pá­tio do quar­tel, com a pequena cantina, ba­ti­za­da de “ma­fuá de baiana”.
Aos poucos se integrou às fainas diárias, familiarizando-se com os toques de corneta. Quando chegava o co­man­dan­te, per­fi­la­va-se ao lado do tabuleiro. Já era por con­vic­ção uma au­tên­ti­ca militar do Batalhão Naval.
No Sete de Setembro ou qualquer que fosse a data cívica, lá es­ta­va ela. Saia branca engomada e dólmã vermelho com botões dou­ra­dos, marchava garbosamente, com a cesta de vime à cabeça, misto de mascote e madrinha. Tinha orgulho de usar o gorro de fita, identificação maior de nosso uni­for­me. O povo já a saudava e ela sentia mais orgulho ainda.
Com a venda de suas iguarias se mantinha e pagava o alu­guel da casa no subúrbio de Rocha Miranda. Oficiais e pra­ças a tratavam com carinho.
Com Paula Baiana, iniciou-se costume que perdura até hoje na Fortaleza de São José Ilha dos Cobras: as “lavadeiras da pedreira”, que ocupam a célebre “Cova da Onça”.
Segundo relatos e à luz de documentação iconográfica do Museu do Corpo de Fuzileiro Navais, Paula trajava-se com uni­for­me de segundo sargento ao final da década de 1920.
Essa fantástica mulher, que conviveu conosco nos con­tur­ba­dos anos da República Velha, morreu dia 20 de abril de 1935, deixando saudades e um legado de amor e gratidão ao ve­lho Batalhão Na­val.

Por:Paulo Roberto Marcos Quintão

Capitão-tenente (QC-FN) e as­ses­sor para assuntos históricos e culturais do Co­man­do Geral do Corpo de Fuzileiros Navais.

Conheça o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais
Fortaleza de São José - Ilha das Cobras, Centro
Rio de Ja­nei­ro - RJ

Artigo publicado no Almanaque Brasil (Revista de Bordo da TAM) em Março de 2002

2 comentários:

Anônimo disse...

Saudações, por favor alguém sabe onde encontrar obras do pintor Álvaro Martins, famoso em retratar nossas Forças Armadas, vi muitas pinturas dele no Comando Geral do CFN. Obrigado!

Anônimo disse...

Linda história, fiquei muito emocionado ao ler, quando eu for ao Rio certamente visitarei o museu do CFN.