Para não morrer de tédio, a maioria da plateia foi dormir. Os que
resistiram ao sono sonham com o sumiço definitivo do dente que fugiu da boca de
Renan
O Brasil decente merece receber acordado a a grande notícia: com a
demissão de Dilma Rousseff, acabou o pesadelo que durou mais de 13 anos
Por: Augusto Nunes
Meia hora antes do início da votação do impeachment, Renan Calheiros
concedia uma entrevista coletiva quando um dente fugiu, tangenciou a língua,
colidiu com a arcada superior e voou para fora da boca. O
vídeo de 13 segundos registra o momento mais dramática vivido pelo
presidente do Senado numa quarta-feira especialmente tenso. E prova que Renan
saíra da cama pronto para enfrentar durante a sessão histórica, sem perder a
tranquilidade, qualquer tipo de incômodo. Até a fuga de um dente.
Quem consegue seguir falando enquanto um dente flutua fora de lugar
encara qualquer tipo de martírio sem passar recibo. A gritaria de Vanessa
Grazziotin, por exemplo. Ou as questões de ordem recitadas por Gleisi Hoffmann,
outro monumento à sabujice erguido com palavras por Lindbergh Farias e o
desfile tedioso de oradores que ficam incontrolavelmente excitados com a chance
de aparecer ao vivo em cadeia nacional de TV.
Não é surpreendente, portanto, que nesta madrugada de quinta-feira Renan
continue dirigindo com o entusiasmo de vereador no primeiro mandato a maratona
parlamentar que começou às 10 da manhã, varou a tarde e está longe do fim: mais
de 30 atores esperam a vez de entrar em cena. Parecem ignorar que vão discursar
para uma plateia de jogo da série D. Até porque o desfecho da disputa está
decidido, a imensa maioria dos espectadores foi dormir. Gente normal não
suporta o insuportável.
Os que ainda resistem ao sono decerto estão torcendo para que o dente
fuja de novo. E suma de vez, o que obrigaria Renan a decretar um intervalo
suficientemente longo para tratar-se com que o problema seja resolvido
definitivamente por algum craque da odontologia. Só assim o país que presta
estará acordado quando for oficialmente anunciado a demissão de Dilma. A era
lulopetista acabou. A resistência democrática venceu.
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