quarta-feira, 23 de julho de 2014

O TEMPO, A HISTÓRIA E A DÚVIDA - Parte I

     Segue a primeira parte de uma matéria que achei muito interessante do Veterano e Escritor Espedito Moreira (Colunista do nosso Blog e do Site da AVCFN).
     Nota de esclarecimento: o conteúdo dos textos  não são recorrentes – a primeira com religião e a segunda, com “quem sabe mais” . Ambas são fatos históricos e tem apenas finalidade “recreativa”.
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O TEMPO, A HISTÓRIA E A DÚVIDA

Espedito Moreira de Mello*
I
As pessoas da minha geração, as antecedentes e as posteriores, nascidas na minha região, até os anos 1950, costumavam ouvir, nos primeiros anos de infância, histórias (ou estórias) narradas pelos pais, tios, parentes. Essas narrativas, reais ou fictícias, tinham o intuito de divertir ou instruir as crianças e até mesmo os adultos que se tornavam passadores da cultura às gerações seguintes.
As crianças, principalmente, se entretinham navegando nas ondas da narração criativa do ator/narrador. O interessante era que, além das pessoas, os bichos também falavam. Havia “encontros” das mais diversas espécies, todos se entendendo na mesma língua. Eram comuns as reuniões cujos integrantes eram raposas, macacos, galos, tartarugas, coelhos, gatos, cachorros, ovelhas e até mesmo o rei dos animais, o leão, tinha assento garantido. Ele costumava chegar assessorado por tigres, ursos, elefantes.
As crianças se divertiam muito. Algumas chegavam a fazer chantagem: “só vou dormir se fulano contar historinhas pra mim”. Acordo fechado. O narrador escolhido punha-se a postos, como de costume, ao lado da rede do cliente exigente, corpo colado à peça de modo a promover o balanço vai e volta. Com isso e o som do enredo da narrativa, em pouco tempo, completava-se o serviço. Estava tudo terminado e o cliente satisfeito completamente.
É verdade que muitas vezes os narradores se deparavam com alguns obstáculos: “por que os bichos hoje não falam como nós?” Cada narrador tinha a sua maneira de esclarecer a dúvida. Fosse ela qual fosse, sempre resultava de que daí para frente, quando a ação envolvesse animais, a narrativa começaria assim: “No tempo em que os bichos falavam... o rei leão convidou a dona raposa, o senhor galo e outros amigos para uma festa na casa dele...”   
Essa ação esclarecedora não punha fim a todas as dúvidas, porque no meio das negociações, para satisfazer as necessidades do “cliente”, havia escassez de profissional disponível – o narrador. Birra vai, birra vem.  A mãe (ou o adulto), sem argumentos convincentes, costumava apelar: “vá dormir (ou vá fazer isso ou aquilo) porque se você não for, ‘papai do céu castiga”.
Diferente dos tempos atuais, as crianças dessas gerações, há cinquenta ou mais anos, tinham as palavras “papai e mamãe”, não necessariamente nessa ordem, como sendo as primeiras que aprendiam a pronunciar e a assimilar o seu correto significado.  Cada avô (materno ou paterno) era chamado de “papai velho” e cada avó, “mamãe velha”. Eram pessoas de carne e osso a quem se dispensava todo o respeito e toda a obediência. Sempre tinham o dever de mimar, de acariciar e, também, o poder de se fazer respeitar e aplicar os castigos merecidos quando necessários. Agora, surge esse “papai do céu” invisível e ameaçador que ninguém conhece pessoalmente. Como provar, para a criança, a sua existência? Missão difícil. Como o leitor faria naquela época? Como procederia nos dias atuais?
Para as histórias fabulosas ou não, a presença do narrador de carne e osso, praticamente, desapareceu. Foi substituído pela TV, de preferência em alta definição; pelo celular, de modelo moderno; pelos games eletrônicos. Nos tempos atuais, não é recomendável aos responsáveis tentar convencer os “pequeninos” apelando para a expressão “papai do céu castiga”, porque correm o risco de responder na justiça por ameaça de maus tratos.
 A tecnologia e a criatividade humana, por exemplo, deram “vida” personalizada aos animais por intermédio dos desenhos animados. Walt Disney, Joseph Barbera e William Hanna (Hanna-Barbera), entre outros, promovem o entretenimento da criançada e aguçam as preocupações dos pais. É visível que banalizaram as figuras dos “atores”. Hoje qualquer risco cria “vida” e sai “falando”; não se vê mais um “Tom e Jerry”, uma “Pantera cor de rosa”. Bom, mas, a outra parte, como fica? 
À medida que a criança cresce, e convive no âmbito da religião católica, por exemplo, passa a ter contatos com relatos sobre a origem da vida. Nenhum ser vivo existia antes, diz a história (dita sagrada). O Criador começa a criar e dá vida e condições ambientais para a existência de muitas criaturas. Por fim, observa que precisa criar alguém à sua imagem. Decide criar o homem. Esculpe-o em barro, dá-lhe o sopro da vida. Adão seria o seu nome. Porém, ainda faltava alguém. De uma costela de Adão, criou Eva. Ambos viveriam no paraíso e deveriam se multiplicar e povoar a Terra.
O que aconteceu com Adão e Eva está, de certa forma, explicado no livro Gênesis, da Bíblia. A dúvida está no processo e no resultado final relativo ao visual do casal. Ou seja, sua pele era branca, preta, amarela, uma vez que essas cores predominam distintamente na raça humana. Qualquer que fosse a cor do casal, como surgiram as outras? A cor da pele e a característica física são próprias de cada região territorial. Desta forma, o habitante original da África tem pele preta, o da Ásia, amarela e o da Europa, branca. Não dá para aceitar como resposta a miscigenação, como se caracteriza na população brasileira, por exemplo. É outra história.
Se o leitor tiver uma resposta convincente, por favor, não me deixe esperar.


*Veterano, escritor, membro da União Brasileira de Escritores (UBE-RN)

Aguarde a segunda parte em breve...

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